O álbum é uma curiosa criatura. Todos os dias vê declarado o seu óbito, e continua a respirar: sobreviveu às mudanças de formato e à pirataria, e nem o streaming conseguiu a sua erosão. Tudo orbita à sua volta, objeto nuclear das estratégias criativas e promocionais. Se assim é, muito podemos agradecer a Michael Jackson, por ter editado Thriller há exatamente 40 anos.
Esta quarta-feira (30), olhamos para o momento em que o artista reserva um lugar definitivo no panteão da música pop. É certo que já vinha a revindicar um nome próprio desde 1972: ainda era a mascote dos Jackson 5, mas já se lançava a solo, com Got to Be There — o primeiro de quatro discos que perfazem a sua juvenília, o recanto mais esquecido da sua obra. Não porque fracassado, mas por lhe caber a ingrata missão de anteceder Off the Wall, álbum que o uniu ao produtor Quincy Jones. Don’t Stop ‘Til You Get Enough, o maior single desse registo, facilitou o seu ingresso no patamar dos discos mais vendidos de sempre.
Um montante conjunto de 20 milhões de exemplares e dois Grammys — poucos artistas se podem dar ao luxo de lamentar este tipo de desempenho. Inquieto com a recusa da Rolling Stone em ter na sua capa um artista negro, e sem modéstia que o travasse, Jackson disse isto: “Um dia destes, estas revistas vão implorar-me por uma entrevista. Talvez lhes conceda uma, talvez não.” Dois anos depois, o seu projeto concretizou-se: ter um disco sem pontos baixos, feito puramente de potenciais êxitos — apenas dois temas, Baby Be Mine e Lady in My Life não foram singles.
Desenhado à prova de bala, Thriller tornou-se um evento, amplificado pelos telediscos que estabeleciam um marco de possibilidade para a então principiante MTV. A alta rotação de Billie Jean e Beat It segurou o álbum durante meses no topo das tabelas; à primeira derrapagem, nasce a ideia de produzir uma curta-metragem para a faixa-título. Talvez essa seja a imagem mais instantânea que hoje temos de Thriller: uma fusão perfeita entre o terror e o groove sem pudor.
É dia de recuperar Thriller, casa que acolhe ainda os temas Wanna Be Startin’ Somethin’, The Lady Is Mine (com Paul McCartney), Human Nature e P.Y.T. (Pretty Young Thing). O álbum mais provável de ser encontrado numa coleção — visto que é o mais vendido de todos os tempos, ultrapassando os 70 milhões de exemplares. Não é difícil perceber porquê.
Texto de Pedro João Santos
Nuno Galopim, Isilda Sanches e João Lopes conversaram na Antena 1 sobre o 40.º aniversário de Thriller, num dia em que a nossa emissão contou também com várias canções do disco.