Ideia nascida depois de acordar a meio da noite, como que sugerida por um sonho, a ‘suite’ acústica, com 33 minutos de duração (em sete segmentos distintos, mas interligados), Seven Psalms é um álbum meditativo no qual Paul Simon não só reflete sobre transcendência, religiosidade e mortalidade, mas onde, e se escutarmos o final Wait, encontramos o que perece ser também um olhar sobre o tempo que está pela sua frente. Aos 81 anos, o homem que em tempo já havia refletido sobre o passar do tempo em Still Crazy After All These Years (editado há precisamente 50 anos) e que em 2011 encarou, numa canção, pensamentos sobre que pode existir depois da vida (The Afterlife), junta-se assim a uma série de outros músicos que, através de canções, traduziram olhares sobre o tempo que passou, em alguns casos juntando ainda pensamentos sobre a noção de um tempo que ainda resta. E assim, entre salmos e meditações, se faz o mais recente episódio do Gira Discos.
O alinhamento passa duas vezes por Seven Psalms de Paul Simon. Depois evoca os álbuns de 2016 Blackstar de David Bowie e You Want It Darker, de Leonard Cohen, o respetivamente editados três e 17 dias antes da partida de ambos os músicos. Pelo Gira Discos passam ainda olhares panorâmicos pelo tempo já vivido em canções como In My Life dos Beatles (1965), Landslide dos Fleetwood Mac (1975) ou Take It With Me (1999) de Tom Waits. Sérgio Godinho contempla um Velho Samurai, do qual se conta que nem nunca um ai se lhe escutou em vida. E Barbara lembra o passado em Man Enfance, do seu álbum Le Soleil Noir, de 1968. De Nick Cave, que em 2022 também editou um disco (neste caso um EP) com o mesmo título Seven Psalms, escutamos How Long Have I Waited.