1.
A história que te quero contar parece uma ficção.
Mas a realidade tem uma força que a ficção não tem, a de ser bastas vezes inverosímil.
O que aconteceu naquele Verão de 1993 foi-me contado por um taxista, o protagonista do episódio. Foi-me contado com provas sacadas do seu tablier: um cartão e um selo real.
Tentarei explicar.
2.
Em 1993, corria o mês de junho ou julho, o nosso taxista foi chamado ao Ritz.
Entraram no táxi um homem e uma mulher.
Bem-postos, bem cheirosos, bem-educados.
Eram holandeses e desejavam fazer uma tour por Lisboa, conhecer alguns lugares, perceber a cidade de uma maneira um pouco mais profunda do que se limitassem as visitas aos pontos turísticos.
O taxista aceitou de bom grado levá-los a lugares mais improváveis ou menos óbvios – a Lisboa antiga dos fados e varinas, o lugar das caravelas e dos velhos do Restelo, o que lhes passou pela cabeça.
3.
O casal de holandeses de meia-idade gostou tanto da maneira como foram tratados que perguntaram se o condutor estava disponível para os levar a outros pontos do país – já não me lembro bem onde foram, julgo que a Coimbra e ao Porto, mas posso estar equivocado.
Sei que saíram de Lisboa ainda de madrugada e que regressaram ao hotel já noite.
Conversa para aqui e para ali e o taxista, também ele a sentir-se muito bem pela maneira como aquele casal fora tão cuidadoso e gentil, convidou-os a medo para um jantar em sua casa.
Podia ser uma maneira de eles conhecerem uma casa portuguesa de uma família comum.
O casal de holandeses aceitou o convite e jantaram mesmo em casa do nosso taxista e da sua mulher que preparou um cozido á portuguesa com tudo a que tinham direito.
4.
No final do jantar o taxista foi levá-los ao hotel e na despedida, a senhora holandesa deixou-lhe um cartão e fê-lo prometer que se um dia fosse ao seu país teria o maior gosto em retribuir tal generosidade.
O taxista agradeceu o cartão e despediu-se.
Quando ficou sozinho no carro olhou para o cartão e não queria acreditar. Aquela mulher chamava-se Margarida Francisca e era princesa da Holanda, a irmã da Rainha Beatriz.
Passaram trinta anos, é certo.
Mas há histórias sem tempo.
Texto e programa de Luís Osório
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