1.
Recordo bem do Estádio do Bessa quase cheio para ver um qualquer jogo da 2.ª Divisão.
O Boavista descera às catacumbas por causa de um processo de corrupção, mas os sócios e simpatizantes acompanharam o seu clube na viagem ao abismo.
Fizeram a sua parte, sem quebras e sem nunca colocar em causa a sua enorme paixão.
2.
Nestes dias difíceis quero dizer aos boavisteiros que não esqueço quem são.
Sei que nasceram num sábado de verão de 1903. E é impossível não saber das vossas origens snobes. Dois irmãos ingleses fizeram a coisa acontecer por adorarem jogar à bola com conterrâneos que viviam na cidade e também com alguns portugueses que com eles conviviam.
Foram os primórdios.
Ainda não existiam as camisolas aos quadradinhos – isso aconteceu apenas em 1933 e, no jogo em que assim se vestiram pela primeira vez, deram um cabaz de quatro a zero ao Benfica.
3.
Muitas décadas de história.
Muitas vitórias, tombos e episódios.
O Boavista nascido na Avenida dos bem-nascidos da Invicta.
O Boavista que construiu o seu Estádio do Bessa nos terrenos que a família Mascarenhas arrendava.
O Boavista do inimitável Valentim Loureiro e dos majores e coronéis.
O Boavista de Taí e Moinhos, de Sanchez e Timofte, de Ricardo e Pedro Emanuel, de Petit e Jimmy, de Raul Meireles e Bosingwa.
O Boavista onde nasceram João Vieira Pinto, Nuno Gomes e Bruno Fernandes.
O Boavista que foi Boavistão por ter conquistado o campeonato e eliminado o Inter de Milão.
4.
O Boavista também das obras sociais.
Das modalidades e dos mais de dois mil miúdos inscritos.
O teu Boavista.
Ou até o nosso Boavista… mesmo que sejamos do Porto, do Benfica ou do Sporting.
Esse Boavista não vai morrer.
Aconteça o que acontecer, não irá morrer.
E se descer lá estarei na primeira jornada da próxima temporada para dar um abraço aos meus amigos das camisolas esquisitas.
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