11 de setembro de 1985: dois comboios chocaram de frente na linha da Beira Alta. 40 anos depois, a Antena 1 e o jornal Público desenvolveram uma série narrativa de três episódios – lançados à quinta-feira – que conta a história do maior acidente ferroviário em Portugal, com testemunhos e factos inéditos.
Os jornalistas Carlos Cipriano, Diogo Ferreira Nunes e Ruben Martins são os autores deste formato, com a sonoplastia de Daniel Leitão e a revisão de Inês Rocha. Para descortinar os impulsos que levaram à conceção deste formato, bem como a sua produção, a Antena 1 conversou com Ruben Martins – que também dá voz ao podcast.
Ouça já o primeiro episódio e leia as respostas abaixo.
Como nasceu a ideia de revisitar o acidente de Alcafache através de um podcast?
No final de 2024, procurávamos ideias para desenvolver no podcast “Sobre Carris” ao longo deste ano. Lembrámo-nos de que iriam passar 40 anos sobre o acidente mas que nunca ninguém tinha feito um podcast sobre o assunto. Para nós, seria uma forma de recordar as reportagens escritas pelo Carlos Cipriano – jornalista com mais de 35 anos de experiência em temas ferroviários – sobre o assunto e de transformar as palavras em sons, dando voz a quem passou pelo acidente ou esteve envolvido no socorro ou na investigação das causas. O formato áudio também tem a facilidade de deixar as pessoas mais confortáveis e menos intimidadas pelo microfone. Entendemos ainda que este podcast é uma recordação sobre como é importante investir nos comboios e em toda a respectiva infraestrutura para que uma tragédia como esta não se repita.
Que vozes e testemunhos vamos ouvir ao longo da série?
Vamos poder ouvir sobreviventes nos dois comboios que chocaram, os primeiros bombeiros a chegarem ao local do acidente, o primeiro fotógrafo que viu as carruagens a arder, o líder da comissão de inquérito ao acidente e o filho de uma das guardas de passagem-de-nível perto de Alcafache. Recolhemos ainda o testemunho do então Presidente da República, Ramalho Eanes, cujo helicóptero foi fundamental para salvar um dos sobreviventes. E tivemos também acesso, pela primeira vez, ao relatório de investigação ao acidente que estava há anos guardado nos arquivos da CP.
Que impacto espera que este podcast tenha junto dos ouvintes, quase 40 anos depois do acidente?
Nem sequer imaginaríamos que este podcast iria para o ar tão pouco tempo depois de um acidente como o do Elevador da Glória. Queremos que os ouvintes se consciencializem de que sem investimento o potencial de tragédias sobre carris é muito grande. A infraestrutura ferroviária é um sistema muito complexo e que requer atenção constante na manutenção e correcção de problemas ou potenciais situações.
Como foi o processo de investigação e produção desta série?
Em Fevereiro e Março, começámos por reunir todos os arquivos do Carlos Cipriano sobre o acidente de Alcafache. Ele próprio recolheu, em Abril e Maio, todos os testemunhos em Nelas, Moimenta da Beira e Alcafache e também teve acesso ao relatório da comissão de inquérito ao acidente, já em Junho. Seguiu-se a fase de pesquisa dos arquivos sonoros e visuais, a cargo do Diogo Ferreira Nunes e do Ruben Martins. Com todos os elementos recolhidos, começámos a escrever o guião em Julho e preparámos a sonoplastia, a cargo do Daniel Leitão. O Ruben Martins gravou a voz-off de todos os episódios.