1.
Max é diferente de todos os outros gatos.
É o único que tem um doutoramento honoris causa e o único que, mesmo após a cerimónia, continua todos os dias a passear-se pelo campus universitário de Vermont.
Falo da cerimónia, mas dando a impressão errada de que esteve presente, o que não é correto.
A dona, mulher com casa mesmo em frente aos portões do Campus, continua a não ter explicação para a enormidade de destino que o condenou a faltar à cerimónia onde a toga e o barrete ficaram sem uso…
…é que Max, parecendo pressentir a importância do momento, teve um desarranjo nos intestinos por culpa de um paté estragado ou de uma crise existencial.
2.
Faltou, mas os aplausos e miaus foram tão fortes que devem ter alcançado os seus ouvidos de gato.
O tigrado Max bamboleia-se como um rei, mas aproxima-se sempre de quem precisa.
Adora a sala de estudo onde se deita aos pés dos estudantes, assiste às orais, gosta das aulas de literatura de um professor que, às escondidas, lhe dá miminhos sem pedir nada em troca.
Estás a pensar o mesmo que eu?
É o único gato doutorado e igualmente o único que, na sua universidade, é bajulado sem ter lugares para distribuir.
3.
Mas não penses que a vida de Max é um mar de rosa.
Os gatos vadios de Castleton odeiam-no.
Não suportam a petulância arrogante de quem tinha a obrigação e o dever de respeitar os seus irmãos, de partilhar com eles as mordomias, de ser amigo.
Um dia atacaram-no para o marcar de alto a baixo.
Foi salvo por estudantes e a universidade tomou medidas para que a gataria selvagem não pudesse fazer mal ao grande, ao luminoso, ao extraordinário, ao fenomenal Max.
O único gato no mundo com um doutoramento.
Arrogante até à quinta casa…
enfim…
um académico à séria.
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