O sol volta a subir no horizonte, desta vez no grande ecrã, depois de um “Pôr do Sol” que anunciava regressar com um brilho renovado. É esse “renascer” que agora se pode ver em Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó, a versão cinematográfica em jeito de spin-off e prequela da série de sátira aos clichés das telenovelas portuguesas que há dois anos se estreou na RTP e que conquistou pela gargalhada os espectadores. Negada uma terceira temporada da série, a solução para satisfazer a “nostalgia” gerada pelo término de uma ficção televisiva que deixou saudades consistiu na sua extensão e adaptação ao formato de longa-metragem. Porém, apesar de convocar um universo ficcional muito idêntico ao da série, o filme pode facilmente existir por si sem ser preciso tê-la visto. Se bem que haja muitas piadas internas e piscadelas de olho a muitos seguidores e fãs que só eles vão entender, esses elementos enquadram-se dentro da trama ridícula e satírica que se estabelece. Em relação à comédia, promete-se a mesma linha e tom seguidos por Pôr do Sol, se bem que um pouco mais negro. Se a série funcionava por núcleos que se sucediam uns aos outros, já o filme requer uma consistência, compactação e sofisticação maiores, justamente para marcar a diferença inerente à mudança de formato. Como explicou Henrique Cardoso Dias, responsável pelo guião desde o início, o desenvolvimento desta história foi “completamente diferente” da série, já que aqui se trata de uma clássica narrativa em três atos.
Como é próprio de uma prequela, a história explora também as origens do protagonista. O papel central continua a caber a Rui Melo e ao seu Simão Bourbon de Linhaça, a personagem do irmão maléfico cujo passado merece aqui uma viagem de regressão para se entender as suas origens e a razão de se ter tornado o vilão de serviço que outrora não era. Para desenredar o mistério do enredo, o filme recua uns “meros” 3500 anos na história da família Bourbon de Linhaça para relembrar a antiga lenda de como o valiosíssimo e ameaçador colar de São Cajó – nada menos do que a peça de ourivesaria mais importante da história de Portugal – foi parar às mãos da família escalabitana. Com uma piscadela de olho a filmes como O Senhor dos Anéis, numa divertida e mordaz alusão ao anel que dominava a personagem do Sméagol, Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó dá continuidade a uma desenfreada imaginação satírica a cuja verve também não escapa o ridículo de certos estereótipos e ingredientes habituais próprios de alguma produção cinematográfica.
Pôr do Sol deu origem a um universo de culto que moldou e mudou o audiovisual em Portugal e que deve muito a um esforço comum catalisado pelo realizador Manuel Pureza e por Rui Melo. No filme podemos reencontrar os mesmos de sempre e outros que regressam da primeira temporada da série, mas também há novidades no elenco. A nomes como os de Gabriela Barros, Diogo Amaral, Marco Delgado, Sofia Sá da Bandeira, Manuel Cavaco ou Carla Andrino juntam-se agora também Diogo Infante, José Raposo, Ângela Pinto, João Jesus e Patrícia Tavares.
Texto de Nuno Camacho
O filme Pôr do Sol: O Mistério do Colar de São Cajó foi um dos destaques do programa Cinemax.