1.
Há regras que não estão escritas, mas que não são menos obrigatórias.
Ou quase obrigatórias, porque há sempre exceções… neste caso, muitas exceções.
Esta é a primeira vez que te falo da minha relação com o Trabalho. Talvez não o tenha feito antes por vergonha ou por respeito ao que os tantos antes de mim fizeram pela qualidade de vida de quem trabalha.
Sem muitos pés a bater ao mesmo tempo não teria havido descanso ao sábado, subsídios de férias e Natal, proteção laboral e direito à reforma.
Ninguém oferece nada de borla, a luta é sempre necessária e grande parte de nós deve isso aos sindicalistas de todo o mundo.
2.
Como sempre, desviei-me.
Ia confessar-te sobre mim.
É complicado e muito simples: não consigo imaginar-me sem trabalhar. Detesto a ideia de me reformar, de ficar a ouvir os passarinhos sem fazer o que gosto, o que preciso, o que me faz ser esta pessoa.
Acredito que se me acontecer, se um dia nada tiver para fazer de concreto, morrerei rapidamente. Ou arriscarei uma espiral de tristeza, o que vai dar ao mesmo.
3.
Tenho vergonha de o confessar, mas é assim.
E isso leva-me às regras que não estão escritas.
A reforma para ser feliz, para permitir que as pessoas possam viver uma outra vida e terem finalmente tempo para descansar, só serve para os que não são felizes no trabalho que fazem.
Só os que trabalham no que não gostam, ou no que não os preenche, podem rejuvenescer na reforma.
O pior é para quem gosta muito do que faz.
O fim chega normalmente mais rápido, não nos acostumamos e o corpo desiste logo depois da cabeça.
Não é uma regra, há exceções, mas é assim.
Quase um feitiço de Deus para equilibrar a balança.
Mas, gostando ou não, felizes dos que têm trabalho.
Não há nada pior do que não o ter.
Só a ideia de um domingo em permanência é particularmente horrível.
Como diz um amigo, o grande Francisco Nunes de que um dia te falarei, isto é só a gente a falar.
Porque num futuro não muito distante veremos o que é isso do Trabalho.
Tema para os nossos filhos, netos e bisnetos.
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