1.
O Barreiro não é para meninos.
Nunca o foi.
É provável que nunca o venha a ser.
Aqui não se dá nada de borla, mas quando se dá, quando se abraça uma vez, quando um barreirense abre a porta de sua casa, é para sempre.
2.
O Barreiro é a “pátria” do Partido Comunista, aqui foi impresso um dos primeiros “avantes”, aqui nasceu a contestação dentro das fábricas, aqui se prepararam revoltas em surdina numa tasca dos Penicheiros.
Mas foi também no Barreiro que o capitalismo cresceu a partir de uma face humana. É o lugar de Alfredo da Silva, do grande
império da CUF, das primeiras habitações para trabalhadores, dos apoios sociais.
Os comunistas, a partir das fábricas e dos estaleiros fabris, organizaram-se para um dia poderem ser a revolução que faria nascer um “Homem Novo”.
Os capitalistas, a partir de uma ideia de solidariedade e conforto laboral, organizaram-se para que a “vacina” do bem-estar fosse eficaz para erradicar o vírus comunista.
3.
O Barreiro é o lugar onde as naus dos descobrimentos eram ultimadas – o próprio Vasco da Gama dava-lhes o derradeiro retoque nas margens de Coina.
É um lugar de trabalho, de combate, de resistência.
Dos grandes desportistas, do basquetebol do Barreirense e de grandes jogadores de futebol diferentes de todos os outros – José Augusto, Chalana, Carlos Manuel, João Cancelo, Neno, Diamantino…
Todos contestatários, líderes, sedutores, insuportáveis e talentosos.
É o lugar das famílias de pescadores, das grandes caldeiradas, das deliciosas cataplanas, do bolo de coco.
E de uma nova geração que não parece desejar as mesmas coisas.
O Barreiro foi dos primeiros bastiões comunistas a cair. O presidente da Câmara, o jovem socialista Frederico Rosa, ex-campeão nacional pelo Barreirense, fez o impensável.
O Barreiro é um lugar livre.
Imprevisível.
Libertário.
Um dos lugares mais amados e incompreendidos.
Quem vem de fora pergunta a razão de tanto amor por um sítio que não é bonito. Quem é do Barreiro despreza a ignorância atrevida de quem apenas olha sem conseguir ver para lá da superfície e do óbvio.
Este Postal é para todos os barreirenses.
Mesmo para os que não se entendem, capitalistas e comunistas, velhos e os novos, de esquerda e de direita.
Parecendo opostos, têm qualquer coisa que os une, um fio invisível a que podemos chamar “terra”.
A Terra.
O Barreiro.
Uma cidade que orgulha Portugal.
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