A notícia já terá justificado mais do que uma rodada numa das noites decantadas em volta das talhas da adega Manuel Varrasquinho, na rua do Monte de Cima. Ou na adega Moreira. Ou na do Amador. São tantas as adegas de Ervidel.
A Voz da Planície e a Rádio Castrense fizeram ecoar a novidade e, nos campos que Giacometti percorreu colhendo toadas da monda, alguém terá ensaiado a receita de um verso, saudando a chegada da nova médica. “Ervidel tem bons cantores”, apregoava uma moda que talvez conste do rol de cantorias do Grupo Coral As Margens do Roxo. Magníficos altos, como Inácio Moleirinho Valverde, belos pontos, um deles de apelido Virtuoso. Quererá saber, por certo, a nova doutora, quando os ouvir, que apelido têm os cantadores de Ervidel, “terra brilhante”. E eles, levando a mão à aba do chapéu, entre duas rodadas de vinho novo, “Caixinha, um seu criado”, Chaíça, Pão Mole, é bela e longa a correnteza de apelidos em “Ervidel, terra brilhante”.
Lembro-me da primeira vez que se me revelou Ervidel, na dobra da Nacional 2, ainda a estrada não estava na moda. Vinha de Ferreira, de umas migas de espargos no Chico, e ali estava aquele aconchego de cal, um presépio de talhas a dois passos das largas águas do Roxo.
Em boa hora, como se dizia nos discursos de vénia cheios de nove horas, a Câmara de Aljustrel apreciou ao detalhe o Regulamento Municipal de Apoio à Fixação de Médicos e, ainda que tal empreitada devesse caber em primeira instância ao governo, fez a sua parte. Está formalizado o apoio à fixação de uma nova médica no concelho. E a nova médica vai garantir a prestação de cuidados de saúde na extensão de Ervidel.
Andam caçadores pelos campos, outros pescam nas águas da barragem. Assim pudesse passar por estes campos, como passou pelos de Bencatel, um novo conde de Monsaraz que enaltecesse as moças da terra nuns versos a pedir uma moda charmosa de Vitorino. Também aqui “estão desertas as eiras”.
A nova médica de Ervidel ouvirá, por certo, na dobra de uma consulta, mais cedo que tarde, por entre avulsos ais das cruzes e suspiros de melancolia dos mais velhos, os versos do poeta popular Raimundo Afonso que ali nasceu e, ainda menino, pastoreou rebanhos, e no vento imprimiu as rimas com que entendia o mundo, doze livros publicados antes de aprender a ler. Figura maior, dele ficou para a memória mais funda da rádio, a conversa que mestre Rafael Correia registou no Lugar ao Sul. Já cá não estão, ambos, estão desertas as eiras. Mas em chegando o São Martinho, brindemos, nós todos e a nova médica da extensão de Ervidel, com o vinho novo das talhas. No Varrasquinho ou no Raposo, no Moreira ou no Amador. Onde houver uma talha, em Ervidel, terra brilhante.