1.
Perdemos amigos para sempre.
Perdemo-los por bons e maus motivos.
Nunca é bom quando acontece, sobretudo quando a razão está do nosso lado – quando nos traem, entristecem ou sentimos que nos abandonaram.
Por vezes somos nós a trair a confiança, a entristecer quem de nós gosta ou a abandonar.
2.
Isto das relações de amizade, relações que implicam duas vontades, tem sempre que se lhe diga.
Como o amor, uma relação de trabalho ou qualquer coisa que não dependa apenas de nós.
Perdemos amigos, mas ainda existe um outro departamento de perda, os que deixam de fazer sentido, os que deixamos de reconhecer por termos mudado, por eles terem mudado, pelas circunstâncias ou por um outro motivo qualquer.
3.
Melhor descartá-los do que termos amigos que não suportamos.
É que acontece muito.
Por nos sentirmos culpados ou por serem próximos da pessoa com quem estamos, insistimos num jogo que nos vai matando aquilo que temos de mais precioso: o tempo e o que dele fazemos.
A nossa liberdade.
Sim, há amigos verdadeiros que nos são insuportáveis.
Gente que já não nos acrescenta.
Não te sintas culpada ou culpado quando acontece, é mesmo assim.
No rescaldo do Natal, em que nos sentimos compelidos à bondade, talvez seja a altura certa para nos obrigarmos a ser justos connosco próprios e com os outros.
De limpar o que nos faz mal.
O que não nos ajuda, o que não nos faz sorrir, o que nos angustia.
Em casa, claro.
Mas também fora de casa.
Amizades que o foram, mas já não são.
Até a amizade pode ser um hábito tão pernicioso como cigarro sem filtro ou whisky sem malte.
Descarta.
Sem dramas, angústias ou sofrimento.
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