Reconhecido pioneiro da eletrónica nos domínios da música popular, protagonista de concertos de dimensões colossais desenhados, ao ar livre, em lugares de referência de cidades por todo o planeta, carregando ainda no currículo feitos como o de ter sido o primeiro músico ocidental a apresentar-se ao vivo na China depois da Revolução Cultural ou o de ter editado um disco com uma só cópia, vendendo-o depois em leilão (aconteceu com Music for Supermarkets, em 1983), o francês Jean Michel Jarre completa hoje 75 anos.
Filho do compositor Maurice Jarre (com quem na verdade pouco conviveu, já que os pais se separaram era ele ainda uma criança), nasceu em Lyon a 24 de agosto de 1948. Estudou música e completou a formação ao integrar, em finais dos anos 60, o Groupe de Recherches Musicales (GRM) dirigido por Pierre Schaeffer onde aprofundado o seu interesse pela exploração da música eletrónica. Data dessa etapa o lançamento de um primeiro single La Cage, em 1971) e o início da colaboração, sobretudo como compositor, para discos de cantores franceses, até meados dos anos 70 assinando canções para vozes como as de Françoise Hardy, Patrick Juvet ou Christophe, entre outros mais. Por essa altura, tendo compreendido que o seu caminho não seria o das explorações que fizera ao lado de Pierre Schaeffer, tinha já iniciado um percurso como autor, editando em 1973 dois primeiros álbuns: Deserted Palace (ainda hoje uma raridade, já que nunca teve sequer edição em CD) e uma banda sonora. Coube contudo a um esforço caseiro, longo e dispendioso, a criação do episódio que lhe daria visibilidade e um caminho. Literalmente gravado num estúdio que montara na sua casa em Lyon, Oxygène, editado em 1976, cativou intenções. E abriu caminho para uma sucessão de discos que, juntamente com Equinoxe (1978) e Les Chants Magnétiques (1981) o colocaram na linha da frente das atenções de uma emergente presença com grande notoriedade de uma nova pop eletrónica. A edição do duplo ao vivo, que entre nós foi lançado como Os Concertos na China (1982) sublinhou definitivamente o estatuto, ao mesmo tempo que, depois de uma primeira superprodução na Praça da Concórdia (Paris) em 1979, o nome de Jean Michel Jarre passou a ser também associado a concertos de grande escala como os que, nos anos seguintes apresentou em Houston, Lyon, Londres ou Moscovo (este com um recorde de mais de três milhões de pessoas na assistência).
Depois desta sucessão de discos que o colocaram no mapa, ora lançou títulos mais exploratórios (como Zoolook, de 1984, focado nos potenciais do sampling e da exploração da voz) ora peças mais populares (como Rendez-Vous, de 1986), criando frequentemente títulos concetuais como Revolutions (1988), En attendant Cousteau (1990) ou Chronologie (1993). Criou duas sequelas para Oxygène, uma para Equinoxe e mais recentemente celebrou em Oxymore (2022) a memória dos dias em que partilhou as visões de novos desafios ao lado de Pierre Schaeffer e levou a disco a música criada para uma exposição de Sebastião Salgado (Amazônia, 2021). Entre 2015 e 2016 chamou uma multidão de músicos, desde contemporâneos como os Tangerine Dream ou John Carpenter a descendentes, dos Pet Shop Boys a Vince Clarke (Erasure) para criar um díptico ao qual chamou Electronica. Durante a pandemia acentuou uma nova frente de trabalho criando concertos virtuais nos quais é possível marcar presença como avatar, dessas experiências tendo surgido Welcome to the Other Side: Concert from Virtual Notre-Dame, um disco ao vivo criado numa Notre-Dame virtual na noite de passagem de ano de 2020 para 2021. Outra das suas criações mais recentes é a App Eon que cria música sempre diferente cada vez que o utilizador acede aos seus conteúdos (uma edição limitada a três mil exemplares fixou em 3 LP e 2 CD alguns momentos assim gerados pela aplicação).
A assinalar os 75 anos de Jean Michel Jarre o Gira Discos dedica-lhe, esta sexta-feira (25), um episódio por onde passam momentos dos seus álbuns e também algumas das canções que criou para vozes da canção francesa nos anos 70.