Brian Peter George St John le Baptiste de la Salle Eno… Este é o nome completo de um dos mais importantes protagonistas da criação musical nos últimos 50 anos. Nascido em Melton (no Reino Unido) a 15 de maio de 1948, completou recentemente 75 anos, razão pela qual o programa Gira Discos mergulhou em alguns momentos da sua discografia. Com estudos feitos em escolas de artes, focando desde logo atenções na música e na imagem, Brian Eno deu primeiros passos profissionais em terrenos de vanguarda, tendo a sua primeira aparição em disco ocorrido, embora não creditada, numa gravação, para a Deutsche Grammophon, em 1971, da Scratch Orchestra do compositor britânico Cornelius Cardew. Por essa altura junta-se aos Roxy Music, então a dar primeiros passos, com eles gravando os primeiros singles e também os álbuns Roxy Music e For Your Pleasure, entre 1972 e 73. Divergências levam-no a tomar o rumo do seu caminho nas suas próprias mãos, estreando-se em nome próprio em 1974 com um primeiro álbum vocal (Here Come the Warm Jets), ponto de partida para um percurso que rapidamente alarga horizontes quer através de colaborações com outros músicos, entre os primeiros surgindo nomes como os de Robert Fripp, Michael Nyman ou Gavin Bryars, estes dois últimos tendo partilhado com Eno passagens, respectivamente, pela Portsmouth Symphony e a Scractch Orchestra.
Um acidente, que o obriga a uma convalescença de algumas semanas, leva-o a concentrar atenções na periferia do silêncio e em pequenos detalhes, dessa experiência nascendo primeiro um disco ao qual chama Discreet Music, primeira porta para um caminho que pouco depois o leva a definir um espaço que ficaria conhecido como ‘ambient music’ que ele mesmo ajuda a desenhar com o álbum Music for Airports, o primeiro volume daquilo a que ele mesmo então designa como ‘ambiente series’. Este caminho na música ambiental instrumental tomará de então em diante um espaço significativo na sua obra, suplantando mesmo a criação de música vocal em nome próprio. Na verdade, depois da série de quatro álbuns vocais editados nos anos 70, grande parte do trabalho com voz na música de Brian Eno ocorre em discos de colaboração que o juntam a nomes como, entre outros, David Bowie, Talking Heads (e depois, a solo, David Byrne), U2, John Cale, James, Coldplay ou os portugueses The Gift, que com ele criam o álbum Altar (2016).
O percurso apresentado neste episódio do Gira Discos passa por alguns destes instantes e referências da obra de Brian Eno. Da obra vocal dos anos 70 evoca o álbum Another Green World (de 1975) e o inesperado momento em que editou em single uma versão de The Lion Sleeps Tonight. Da sua obra vocal o episódio passa ainda pelos discos Another Day On Earth (2005) e pelo mais recente Foreverandevernomore. Da vasta obra ambiental é visitada a contribuição para a banda sonora do Dune de David Lynch (1984), escolha que vinca também a sua considerável obra criada para o cinema. O caminho feito entre discos que assinala o 75.º aniversário de Brian Eno inclui ainda colaborações com John Cale, os Passengers (banda criada conjuntamente com os U2 com vida pontual nos anos 90), David Bowie, Rick Holland ou os The Gift. E termina ao som de Fractal Zoom, o single que anunciou em 1992 o álbum Nerve Net, disco no qual as vivências ambientais e discretas heranças do trabalho feito entre canções se cruzou com o apetite em experimentar novas possibilidades rítmicas da música eletrónica.
Texto de Nuno Galopim
Todos os episódios de Gira Discos estão disponíveis na RTP Play. Pode ouvi-los na Antena 1, nas noites de quinta para sexta-feira, depois das notícias da meia-noite.