1.
O FC Porto vai ter eleições e existe a possibilidade de Jorge Nuno Pinto da Costa as perder.
Dito assim parece irreal, se o afirmasse há dois anos internavam-me para exames por falta de adesão à realidade.
Pinto da Costa não podia perder eleições enquanto fosse vivo – cá para nós, quantos sócios estariam disponíveis para votar contra o homem que transformou um clube que perdia num que ganhou tudo o que havia para ganhar em Portugal e no mundo?
Poucos, muito poucos.
Mas a realidade é o que é. Dinâmica, imprevisível e nada é certo, mesmo o que certo nos parece.
Quando vemos Fernando Madureira a ser detido, os Super Dragões no olho do furação e funcionários do FC Porto e um administrador envolvidos na criação de um clima de terror com o objetivo de condicionar as próximas eleições, percebemos que os ventos estão a mudar, porventura em definitivo para Pinto da Costa.
Mas não quero dar opinião sobre as eleições no FC Porto, a excelente equipa de Desporto da Antena 1 estará mais habilitada do que eu para o fazer.
2.
Desejo isso sim falar das mulheres de Pinto da Costa.
Dos seus casamentos, dos livros que leva para os estágios, dos fados que ouve, dos gatos a quem dá comida como se ainda fosse um miúdo privilegiado e protegido da Cedofeita.
Não se assustem os que dele não gostam.
Não quero arregimentar ninguém e por mim, benfiquista me confesso, já me chega de Pinto da Costa.
Mas é impossível não ficar surpreendido com a sua coragem para enfrentar um jovem e temível leão em campo aberto.
Pinto da Costa prefere morrer de pé e na luta do que encontrar uma qualquer desculpa em troca da inauguração de uma estátua em vida – e isso é raro.
3.
Não gosto de Pinto da Costa presidente do FC Porto, mas admiro o pormenor de nunca desistir de ter ilusões.
Somou casamentos, quase sempre com mulheres muito mais novas, o que levou ao delírio os seus adeptos e ao gozo os que o odeiam. Nem uns nem outros têm razão, os casamentos e casos de Pinto da Costa são o símbolo da sua dificuldade de desistir da vida, do que na vida é mesmo vida, do que é construção de uma coisa nova – e isso também é raro.
Em criança inventava histórias e protegia gatos de rua. Alguns não o levaram a sério, nunca imaginariam que dividisse as águas e arregimentasse uma parte do país contra o poder centralista de Lisboa, nunca o imaginariam capaz de controlar o futebol português e de pôr em sentido o poder político e mediático.
Uma Lisboa a quem fez a vida negra sem nunca ter deixado de ouvir Amália Rodrigues e de recitar de cor grandes poemas sobre o Tejo.
4.
Circulava a informação de que estava doente, mas se está não parece. Vai combater e usar todas as armas que conseguir.
E obrigará adversários e sócios a olharem-no nos olhos, não lhes facilitará o voto sem o peso do sentimento de culpa, assumirá que a sua derrota o obrigará a abandonar sozinho e para sempre o FC Porto.
Por mim, já chega como presidente.
Mas se a competição fosse entre a densidade de um e do outro, não existiria comparação possível.
A vida de Pinto da Costa está a anos-luz da vida de André Villas-Boas.
É o que é, mas não queria deixar de o dizer.
Texto e programa de Luís Osório
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