1.
No dia 17 de setembro uma criança de 12 anos entrou na sua escola na Azambuja e atacou os colegas que lhe passaram pela frente.
Atacou-os com uma faca de cozinha e levava vestido de casa um colete à prova de balas que afirmou pertencer ao pai.
Seis miúdos ficaram feridos num primeiro dia de aulas impossível de esquecer.
Um minuto antes do ataque, logo depois do almoço, o ambiente era de festa.
Gargalhadas.
Abraços.
Promessas de amizade.
O miúdo inscrito no 7º Ano, alegadamente filho de uma professora de uma escola vizinha, destruiu a alegria, traumatizou quem ali estava e não conseguiu matar ninguém por mera sorte.
A polícia fala dos sites nazis que procurou antes do ataque para, muito provavelmente, se inspirar.
As investigações decorrem, mas esta loucura não parece daqui. Ou então já vivemos num futuro que acreditávamos distante.
2.
A quase tragédia pôs-me a pensar sobre a maldade.
Sobre o bem e o mal.
Sobre um dos lugares-comuns mais falsamente certos no nosso vocabulário – o de as crianças serem todas maravilhosas, anjos sem mácula, totalmente incapazes de maus pensamentos e canalhices.
Nada de mais falso.
Há crianças e adolescentes horríveis.
Maus dos pés à cabeça.
Amorais e perversos.
Miúdos que humilham colegas.
Que lhes provocam medo.
Que os atacam nas sombras.
Tenho filhos, sei que não é fácil para ninguém, que é um assunto quase tabu.
Vemos os nossos a brincar e achamos que o melhor do mundo são mesmo eles e elas.
E aceitamos como boa a frase bíblica.
Porém, há crianças insuportáveis.
Sem filtros.
Um pátio de uma escola é um campo de guerra, miúdos maltratam outros miúdos, jogam com os sentimentos de quem é mais frágil aos seus olhos.
De quem é fraco.
Gordo.
Tímido.
Feio.
Pobre.
Gay.
O melhor do mundo são mesmo as crianças?
Muitas sim.
Acredito que a maioria, sim.
Mas atenção…
… um crápula foi, na maior parte dos casos, uma criança crápula.
Na selva os predadores começam cedo a sê-lo.
Nenhuma pessoa horrível foi uma criança maravilhosa.
Isso não existe.
Texto e programa de Luís Osório
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