1.
Continuo a gostar tanto do Algarve como na passada semana e na outra antes.
Gosto dos algarvios, dos do Barlavento e dos do Sotavento. Portugueses diferentes dos outros portugueses, habituados a estar por sua conta, curtidos pelo Sol e pela necessidade de sobreviver, gente feita de trabalho no campo, na pesca, nas fábricas, na apanha da laranja, nas salinas, no turismo.
E não alinho com o que se vai dizendo.
Porque o Algarve não é uma brincadeira, é um orgulho. Um lugar diferente, de gente desconfiada, mas que quando deixa de desconfiar abre a porta de casa e deixa-nos um lugar na mesa com conquilhas acabadas de apanhar por mãos calejadas.
2.
Gosto de Olhão e dos seus olhanenses que um dia se deram ao mar com uma coragem que os fez, contra todas as expetativas, chegar ao Brasil pela força da convicção e do sonho.
Gosto de Faro e de Tavira, até gosto de Boliqueime… terra de Lídia Jorge, uma das nossas maiores.
E… bem sei… de Cavaco Silva.
O Algarve da Padeira de Aljubarrota e de Mário Centeno.
De Adelino da Palma Carlos e de Diogo Piçarra.
Do João de Deus ao António Ramos Rosa.
Do António Aleixo e do Nuno Júdice.
Do Remexido e de tantos anónimos da ponta de Sagres à ponta de Vila Real de Santo António, gente que ofereceu as suas vidas para se manterem portugueses.
Muito respeito.
3.
Gosto do Algarve.
Do calor no Verão e das praias.
Do frio no inverno e das lareiras.
Das laranjas únicas de tanto sumo.
Gosto da Serra de Monchique, do xisto e da argila, das várzeas e falésias, gosto de gente com memória que construiu as suas vidas a pulso.
Gosto do Farense e do Portimonense, dos jogos no São Luis que são um terror para a equipa visitante.
Gosto das senhoras à janela.
Dos gelados em cada esquina, dos sorrisos que consigo arrancar e que me sabem pela vida.
Gosto das palavras que só os e as algarvias usam.
Marafado (zangado)
Afartar-se (servir-se)
Bajôja ou bajôjo (desleixada ou desleixado)
Cagorro (susto)
Quebra-jum (pequeno-almoço)
E tantas outras expressões.
4.
Gosto muito do Algarve.
E gosto dos algarvios.
Há gente que vem agora “nas horas de um cabrão”, que é o mesmo que ouvir um velho algarvio dizer que há gente que vem agora a toda a velocidade dizer mal dos algarvios, mas eu não aceito isso.
Portugal sem o Algarve?
Não me lixem.
Portugal sem o Algarve não é Portugal.
Texto e programa de Luís Osório
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