1.
Poucos atores foram tão populares em Portugal como Tony Ramos.
O país parava para o ver nas novelas.
Não estávamos habituados a atores assim, que falavam normalmente, que não eram teatrais, que nos faziam acreditar que tudo era verdade.
As minhas avós seguiam-no.
A minha mãe também.
No “Astro” fazia de filho de um milionário que troca o dinheiro por um amor que acaba mal.
No “Pai Herói” tentou provar que o pai era bom e não um canalha.
Em “Baila Comigo” fez o papel de dois irmãos gémeos.
Em “Sol de Verão” era surdo mudo.
Em “Rainha da Sucata” um playboy.
Em Torre de Babel um tipo sem escrúpulos e mau como as cobras.
Já fez de indiano, de italiano, grego e até português.
De Getúlio Vargas e de pedinte.
Até já fez de si próprio.
2.
Tive uma namorada que adorava os pelos do meu peito.
Pareces o Tony Ramos, tão bom.
Mas tive outra namorada que mos queria cortar.
Pareces o Tony Ramos, muito mau.
O Tony foi o filho que as mães gostavam de ter.
Ou o marido que as mulheres adorariam que fosse delas.
Ganhou todos os prémios, foi o mais bem pago ator em toda a América Latina e nas últimas semanas o imenso Brasil, do Rio Grande do Sul aos índios da Amazonas, do Mato Grosso à Bahia, do Rio a São Paulo, do Ceará à Rondónia, da Rocinha a Búzios, ficou suspenso do que lhe iria acontecer.
3.
Tony estava entre a vida e a morte.
Sentiu-se mal antes de uma gravação. Foi operado de urgência com uma coagulação intracraniana. No dia seguinte outra cirurgia motivada por novos hematomas.
Centenas de pessoas ficaram à porta do hospital.
Chorou-se, sambou-se de tristeza, rezou-se pela esperança e a melhor notícia chegou por fim: Tony Ramos iria ter alta e só precisava de descansar.
Gritou-se “milagre”.
4.
Engraçado que há figuras que nunca pensamos que podem morrer.
Tony Ramos é uma delas.
Um ator extraordinário que fez de tudo, mas que sempre associámos a uma ideia de bem, a um homem bom, a alguém em quem podíamos confiar.
As melhoras, Tony.
Voltarei a ver-te na próxima novela.
Texto e programa de Luís Osório
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