Os seis miúdos que ficaram órfãos no dia dos cravos

Quatro jovens morreram no dia 25 de Abril de 1974. Dois deles tinham filhos. O que terá sido feito desses órfãos da revolução? Seis miúdos para quem a liberdade significa também o dia em que o pai morreu.

Os seis miúdos que ficaram órfãos no dia dos cravos

Quatro jovens morreram no dia 25 de Abril de 1974. Dois deles tinham filhos. O que terá sido feito desses órfãos da revolução? Seis miúdos para quem a liberdade significa também o dia em que o pai morreu.


1.
Mais de metade da população portuguesa é mais nova do que eu.

Mais de metade já nasceu depois do 25 de Abril de 1974.

Falar da revolução dos cravos parece cada vez mais distante – não tem de ser necessariamente uma má notícia, só o é pela falta de memória que traz o esquecimento e a repetição de erros.

2.

Penso hoje, neste início de abril de 2025, 51 anos depois, no que terá sido a vida dos quatro filhos de José Barneto.

E nos dois de Fernando Luís dos Reis.

José era escriturário e os seus quatro miúdos viviam com ele e a mãe em Loures.

Já Fernando era militar, mas não estava de serviço. De um casamento breve nasceram duas crianças ainda bebés.

O que terá acontecido a cada um desses seis miúdos para quem o dia da liberdade é também o dia em que morreu o seu pai?

Como encararam isso?

Com orgulho?

Com raiva por o pai ter sido esquecido?

3.

Penso hoje, neste início de abril de 2025, 51 anos depois, no que terá sido a vida dos quatro filhos de José Barneto.

E nos dois de Fernando Luís dos Reis.

José era escriturário e os seus quatro miúdos viviam com ele e a mãe em Loures.

Já Fernando era militar, mas não estava de serviço. De um casamento breve nasceram duas crianças ainda bebés.

O que terá acontecido a cada um desses seis miúdos para quem o dia da liberdade é também o dia em que morreu o seu pai?

Como encararam isso?

Com orgulho?

Com raiva por o pai ter sido esquecido?

4.

José e Fernando levantaram-se felizes naquele dia.

Foram para a rua festejar.

Dirigiram-se para o lugar simbólico da repressão.

Abraçaram e foram abraçados.

Gritaram e fizeram planos.

Viram uma janela a abrir-se e duas rajadas de metralhadora de um PIDE abateram os seus sonhos.

Os sonhos de quatro jovens que não chegaram a saber o que era isso da liberdade.

Mas o que foi feito dos miúdos?

O que fizeram na vida?

Festejam o 25 de Abril ou vão a cemitério?

Recordam o pai?

Têm fotografias?

Falam aos seus filhos dos avós?

Sentem orgulho, cumpriram-se?

Um abraço a cada um deles.

Órfãos da liberdade, mas homens e mulheres livres.
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