1.
O sucesso, em muitas das suas formas, é um embuste.
Não me compreendas mal, é bom ser reconhecido.
Fantástico quando um músico enche estádios, um escritor ganha prémios de referência internacional, um ator é aplaudido nos melhores palcos do mundo e um pintor sobe na sua cotação.
Nunca concorri ou concorrerei a um prémio.
Por isso, nunca conquistarei nada em que seja essencial uma inscrição.
Mas adoraria escrever para o mundo, conhecer mais pessoas, viajar e estrear espetáculos fora do país que amo.
2.
O sucesso é um embuste por desviar ou toldar as pessoas que nele acreditam cegamente.
Já vi tanta gente a perder-se, já vi tantos que se desviaram do seu caminho para continuar a beber do coqueiro onde o sumo parece ser preparado num céu qualquer.
A fábula do Adão e da Eva, do Jardim e da maçã proibida, assentaria muito bem nesta ilusão do poder, do dinheiro e do sucesso.
3.
Depois, há uma outra coisa.
Os que vivem para dizer mal dos que têm sucesso.
Quando não o têm são os maiores, quando o povo os reconhece e compra discos, quadros ou começa a ir ver os seus filmes, ficam loucos e disparam palavras de escárnio que destilam um particular tipo de inveja.
Gente que detesta gostar do que a maioria gosta.
Os maluquinhos do Lado B, das minorias das minorias, dos injustiçados da história que apenas são reconhecidos pelos iluminados que morrem com um bafo desgraçado a fel.
4.
António Zambujo disse-o numa entrevista recente:
“Uma série de malta deixou de me ouvir quando comecei a ter sucesso”.
E afirmou-o antes de casar com a luminosa Maria Luiza Jobim.
Imagino agora…
E vou até tentar reproduzir o que imagino.
5.
Não há direito, António.
Além do sucesso que passaste a ter, além de esgotares salas e salas em Portugal e fora de Portugal, ainda casaste, com aliança e tudo, com a filha do Tom Jobim?
Eu gostava de ti é quando cantavas na Taberna do Cesário ou na Tasca do Chaparro.
Aí sim, a tua voz era do caraças.
Depois estragaste tudo com aquelas melodias para enganar tolos.
E o casamento com a brasileira?
Ó António, eu gostava de ti era se tivesses casado com a Cremilde, mulher de pensamento puro e simples, mas estragaste-te.
Não gosto de dizer, ó Zambujo, mas és um vendido.
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