Falar de Carlos Paredes é falar da Música Portuguesa em todo o seu esplendor, tal a forma como o guitarrista conseguiu transportar para as cordas da sua guitarra a inquieta alma nacional. Filho de Artur Paredes, um dos mais conceituados guitarristas de Coimbra, Carlos Paredes quase seguia as pisadas do pai no que toca aos reduzidos passos discográficos. Na realidade, quando grava o primeiro disco em nome próprio, na Rádio Triunfo, tem já 37 anos, e tinham ficado para trás alguns trabalhos ao lado precisamente do pai e também do cantor Augusto Camacho Vieira. No segundo registo, também em EP, “Guitarradas sob o Tema do Filme «Verdes Anos»” (1963), encontramos as composições que Carlos Paredes criara para o novo cinema de Paulo Rocha, sendo que a cantora Teresa Paula Brito daria voz à canção do filme, com poema de Pedro Tamen.
Mudando-se depois para a Valentim de Carvalho, o músico grava aí os seus dois primeiros álbuns, “Guitarra Portuguesa” (1967) e “Movimento Perpétuo” (1971), sempre ao lado de Fernando Alvim, o seu cúmplice guitarrista. Em 2011, a conceituada editora norte-americana Drag City reeditou estes dois LPs, demonstrando um interesse transversal pela música de Paredes.
Entre o primeiro e o segundo álbum, tinha entretanto sido publicado em 1970 um álbum pouco conhecido, “Meu País – Canções”, em que a guitarra de Carlos Paredes se junta à voz de Cecília de Melo, sua companheira na época. A poesia de Manuel Alegre ou de Carlos de Oliveira estão aqui aliadas a cantigas populares, numa proposta ainda hoje plena de força. Logo depois do 25 de Abril, Paredes acompanharia também em disco a voz de Adriano Correia de Oliveira, participando no LP “Que Nunca Mais”, de 1975.
Na então Alemanha de Leste, sai em 1977 o álbum “Meister der portugiesischen Gitarre”, onde encontramos a guitarra de Carlos Alberto Moniz ao lado de Carlos Paredes e uma suíte que tinha estado prevista para publicação na Valentim de Carvalho, de título “O Ouro e o Trigo”. O passo seguinte em disco teria também como palco a Alemanha, com o álbum “Concerto em Frankfurt”, de novo ao lado de Fernando Alvim. Mas no capítulo dos trabalhos de estúdio, os anos de 1986 e 1990 trouxeram duas parcerias bem distintas: com António Victorino d’Almeida, em “Invenções Livres”; e com o norte-americano Charlie Haden, em “Dialogues”, respectivamente. Entre ambos, saía em 1988 o álbum “Espelho de Sons”, com acompanhamentos maioritariamente assegurados por Luísa Amaro, sua companheira e discípula, e que apresentou a música de Carlos Paredes a uma nova geração.
Com uma importante agenda internacional e, já na década de 90, com momentos em palco ao lado de novas gerações da nossa música, uma mielopatia veio comprometer irremediavelmente o percurso artístico do guitarrista. Em 2000, quatro anos antes da sua morte, é publicado o álbum que tinha ficado inacabado, “Canção para Titi”, um último testamento público da enorme inventividade deste músico de quem agora celebramos o centenário.
Texto e programa de João Carlos Callixto
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