Desde há 60 anos é praticamente impossível pensar na cidade de Liverpool sem a ela associarmos, imediatamente, a história dos Beatles, a mais célebre das bandas que ali nasceram. Cidade musical, berço também de nomes que vão dos Gerry and the Pacemakers aos Frankie Goes to Hollywood, passando pelos Echo & the Bunnymen, OMD ou Elvis Costello, entre muitos mais, Liverpool tem de facto nos Beatles uma das suas mais preciosas memórias, com lugares, canções e narrativas que ali podemos (re)visitar. Diariamente há uma excursão de duas horas – a Magical Mystery Tour – que passa pelas casas dos quatro elementos da banda e por lugares marcantes nos seus primeiros tempos como músicos, sem esquecer lugares como a mítica rua Penny Lane ou o jardim Strawberry Fields, ambos imortalizados em canções de 1967. O percurso termina no Cavern, o clube no centro da cidade no qual os Beatles se apresentaram inúmeras vezes, sobretudo entre 1961 e 1963. Do outro lado da rua há um museu dedicado a memórias dos fab four. Chama-se Beatles Liverpool Museum e apresenta, espalhados por três andares, objetos e imagens que contam o percurso do grupo. Não muito longe dali, na Albert Dock, o Beatles Story Museum sugere uma experiência narrativa (com a ajuda de guias áudio) numa sucessão de salas, cada qual decorada segundo a memória evocada, que contam a história da banda e também momentos dos percursos a solo que os quatro músicos viveram depois da sua separação, em 1970.
Mas nem só dos Beatles vivem as memórias musicais que a cidade hoje conta. Na icónica Liverpool Waterfront, a zona ribeirinha que surge habitualmente nas fotografias da cidade, encontramos, perto da famosa estátua dos Beatles, um outro museu. Trata-se da British Music Experience, na verdade uma gigantesca sala na qual é definido um percurso que começa nos artistas de jazz e primeiras figuras pop/rock dos anos 50 e depois avança até aos dias de hoje, incluindo nesse relato feito com peças de roupa, capas de discos, posters, recortes de imprensa, instrumentos, fotos, vídeos e sons, histórias que passam por nomes como os Beatles, Rolling Stones, David Bowie, Elton John, Queen, Sex Pistols, Duran Duran, Culture Club, Blur, Oasis ou as Spice Girls, entre muitos mais.
A oferta cultural de Liverpool, que não é estranha às transformações ali vividas por ocasião do ano (2008) no qual a cidade foi Capital Europeia da Cultura, inclui uma multidão de museus que vão da Tate Liverpool (num dos edifícios da Albert Dock) ou do Museu Marítimo, do Liverpool Museum, do World Museum, ou da Walker Art Gallery ao Victoria Gallery & Museum, entre outros, junta ainda pontos de interesse como o memorial ao Titanic ou estátuas que evocam mais memórias musicais (Cila Black, Bill Fury) ou ainda monumentos como a Catedral de Liverpool ou as ruínas da igreja de St Luke’s, uma igreja anglicana do início do século XIX, bombardeada em 1941, em plena II Guerra Mundial.
Estes lugares e histórias de Liverpool passam pelo mais recente episódio de Duas ou Três Coisas no qual João Lopes e Nuno Galopim referem ainda ecos recentes da edição de 2023 do Festival da Eurovisão, durante o qual a cidade mostrou ser muito acolhedora, reforçando a ideia lançada pela BBC de que o Reino Unido realizava o concurso em nome da Ucrânia, país vencedor em 2022. Daí que, durante as duas semanas durante as quais a Eurovisão “invadiu” Liverpool, não havia lojas, cafés, bares, restaurantes ou hotéis que não mostrassem cartazes a notar que a cidade recebia com orgulho toda a operação, notando-se em muitos casos (sobretudo nas montras) as cores da bandeira ucraniana. A reunião dos Frankie Goes to Hollywood (que actuaram na festa de abertura da Eurovisão) e homenagens do programa de televisão à música de Liverpool passam ainda por este episódio.
Texto de Nuno Galopim
Todas as sextas-feiras, depois das notícias das 23h, há novo episódio de Duas ou Três Coisas na Antena 1. Também disponível na RTP Play.