1.
Nos últimos dez ou quinze anos nasceram muitos famosos.
Estrelas que rapidamente se apagaram, outras que se mantiveram, atores e atrizes na maior parte dos casos bonitos e desejáveis, gente que parecia não dormir entre gravações de novelas, redes sociais, festas, campanhas publicitárias, desfiles de moda, livros, entrevistas nos programas da manhã e de tarde e anúncios de novos namoros, casos amorosos, casamentos, gravidezes e filhos.
A série “Morangos com Açúcar” lançou (e muito bem) várias gerações de miúdos. Uns com muito talento, outros com jeito e outros sem ponta de jeito ou talento.
Quase todos com a perfeição na boca ou a debitarem frases feitas sobre a representação, o sucesso e a felicidade.
Quase todos nas suas vidas perfeitas, nas suas relações felizes, nos seus projetos imbatíveis, nos seus corpos esculturais.
Quase todos a sublinharem o talento dos colegas, o que devem à indústria, a importância do equilíbrio, da felicidade, do carinho pelos velhotes, das viagens de sonho, da miséria no mundo e da responsabilidade de serem figuras públicas.
2.
Há algumas exceções.
Gente inteira que se assume naquilo que é, nas suas falhas e pequenas tragédias, no que a vida oferece de absolutamente rotineiro, no que não tem importância nenhuma, na vida tal como é, com sorrisos e bocejos, com simpatia ou sem ela, com ternura ou agressividade.
Dentro deste grupo há uma mulher por quem tenho admiração. Alguém que é real, de carne e osso, que fala com o mundo de igual para igual, que confessa sobre os seus medos, a sua ansiedade, os seus planos, a sua incapacidade de ser perfeita.
3.
Jéssica Athayde é tudo isso.
Tem um milhão de pessoas que a seguem no Instagram e nunca abdicou de ser ela própria, nunca fez aquilo que a indústria pede que seja feito, nunca foi ovelha a seguir o rebanho, nunca deixou de respeitar o seu próprio caminho.
E nunca dramatizou a sua história de vida.
Simplificou-a sempre ao olhar dos outros.
Mesmo quando contou ser filha de uma relação extraconjugal do seu pai ou quando assumir que toma um ansiolítico em muitos dias que se sente a sufocar.
Simpatizo e admiro a Jéssica por ela ser única.
Por ser mesmo diferente dos personagens que representa.
Por ser uma mulher comprometida com a vida no que esta tem de rotina, sonho, tragédia e esperança.
Texto e programa de Luís Osório
Ouça o “Postal do Dia” na Antena 1, de segunda a sexta-feira, pelas 18h50. Disponível posteriormente em Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e RTP Play.