1.
Durante dois anos conversei com Manuel Sobrinho Simões.
Fiz perguntas, dei corda ao seu pensamento, fiquei calado muitas vezes ou exaltado com a aventura do conhecimento, sem dúvida nenhuma a mais arriscada aventura a que podemos ambicionar.
A voz de Sobrinho Simões é jovem.
E o que diz é de uma “pátria” só ao alcance dos que reconhecem o caminho de regresso à infância.
É estranho pensar nos segredos da sua alquimia – como justificar que o médico e investigador português que mais sabe de cancro, um dos patologistas mais influentes do mundo, possa ser dono dos sonhos, dos seus e agora dos teus, os sonhos que ele alimenta nesta lição que agora é um livro.
2.
Manuel Sobrinho Simões é um sábio. Que, como todos os sábios, é capaz de nos dizer que não sabe quando não sabe. Ou de falar dos prazeres da vida, de um bom vinho ou de uma refeição que perdure ou de alguém que o tenha marcado apenas por um olhar, por uma faísca de esperança ou por um humor que não deixe pedra sobre pedra.
3.
O professor Sobrinho Simões tenta que esta lição dure o que sabemos da eternidade.
Fala da morte, mas sobretudo da vida.
Fala do ensino, mas sobretudo do que podemos fazer para que os nossos filhos e netos sejam curiosos e aproveitem o estar aqui
Fala da medicina e da revolução que está na sua cabeça, de enfermeiros que terão muito mais responsabilidades, de médicos que precisam de reaprender a tocar nos doentes, a tocar-lhes no íntimo, a compreendê-los fora das máquinas que tudo acreditam saber.
Fala de ser professor, do que um professor tem de fazer para ser melhor, para reencontrar a paixão.
Fala de si próprio, de ter sido o melhor aluno de medicina da história da sua faculdade, dos prémios e do que representaram, do laboratório e da alma humana, de Deus e dos animais.
Mas sobretudo do ser humano.
Dos seus medos.
Do pavor de poder morrer de cancro, do que sentiu quando esteve à morte com um AVC, das lágrimas dos filhos quando o viram, dos seus pais e dos seus mestres, da história de amor com a sua mulher, no que acredita no amor e nas palavras que usa como se fosse um poeta profano.
Sou um privilegiado.
Estive dois anos a escutar um sábio.
Tornei-me melhor e mais capaz.
E tentei ao máximo partilhar o que ouvi neste livro que agora oferecemos ao mundo.
Texto e programa de Luís Osório
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