1.
Joana Amaral Dias foi apresentada como cabeça de lista do partido ADN às próximas eleições europeias. Um partido com ligações ao movimento evangélico que ajudou a colocar no poder Jair Bolsonaro.
Houve um tempo em que Joana era considerada uma promessa política.
Há vinte anos estava no parlamento e brilhava na bancada do Bloco de Esquerda. Em 2006, ainda deputada pelo BE, aceitou ser mandatária da juventude na última e falhada candidatura presidencial de Mário Soares.
2.
Depois decidiu que a sua vida deveria ser outra coisa.
Fez da polémica negócio.
Fez da visibilidade, boa ou má, oportunidade.
Fez da falta de coerência um modo de vida.
Tornou-se uma personagem seguida por quem a detesta militantemente ou por quem gosta de confusão.
Transformou-se numa espécie de André Ventura da comunicação – a verdade é um conceito abstrato, a falta de vergonha uma evidência, a necessidade de chocar o seu combustível.
Fala de tudo com a arrogância de ser dona das certezas. Dá opinião sobre política, futebol, sexo, jardinagem, jet set, crimes, reality shows, moda e o que houver no alinhamento.
3.
A Joana é inteligente.
Domina a linguagem e a comunicação.
Ela é a sua própria construção.
Por que decidiu ser esta pessoa?
Por ambição de dinheiro, de poder, de protagonismo, por vaidade… só ela saberá.
Na política tem sido vertiginoso.
Bloco de Esquerda.
Colaboração com o PS e depois com o Livre que quis transformar no Podemos português, fundação de um partido chamado “Agir”, candidata à Câmara de Lisboa pelo partido de direita Nós Cidadãos.
E agora o ADN e o parlamento europeu.
Nunca ninguém fizera um percurso tão fulgurante entre a extrema-direita e a extrema-esquerda.
À Joana Amaral Dias só interessa um tema: ela própria.
Tudo o resto gravita em torno desse objetivo maior.
Quer seja para humilhar a Miss Portugal como para participar nos “Monólogos da Vagina” ou receber dinheiro de empresas para patrocinar produtos, como a Prozis.
Quer seja para criticar as vacinas e as máscaras durante a pandemia como para fazer humor com as mudanças climáticas.
Que caminho o seu.
E que coragem para ter tanta lata.
Texto e programa de Luís Osório
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