Isabela Figueiredo descobriu a sua eternidade.
Escreveeeee…
Ao ponto de Mia Couto a considerar:
“Uma das mais originais e poderosas vozes
da nova literatura portuguesa”.
Tem também outra virtude.
A de não ter tento na língua.
Libertou-se das amarras.
É livre. É punk, como diz.
Tem de se pentear: “não penteio”.
Não pode rir alto: “rio como me apetece”.
Tem que fazer afirmações sérias e inteligentes: “adoro dizer disparates”.
Caramba, é tão Álvaro de Campos!
[“E eu que me sinto, todos os dias,
tão Álvaro de Campos”, nas suas palavras]
Ela, que tem “enrolado os pés nos tapetes das etiquetas”,
Que tem “sofrido enxovalhos e calado”.
Ela, que foi vítima de assédio sexual.
Aos 6 anos, aos 10, aos 19…
e nos tempos de jornalista no Diário de Notícias.
Nunca falou.
Fez o que lhe ensinaram,
“pactuei, aguentei o sistema”.
Mesmo sabendo que há outro caminho,
o da denúncia.
O que lhe roubaram?
A inocência.
Essa é também uma das razões “por que não tive filhos e por que não me deixei ser amada”.
Caramba, é tão honesto isto.
Tão corajoso.
Isabela deixa as feridas ao ar. À vista.
Partilha-as nos seus livros, nos seus blogues.
Porquê?
“Porque as feridas tornam-nos únicos.
Fazem parte de nós, constroem-nos”, diz.
E mais:
“A arte baseia-se na nossa ferida profunda”.
Foi por isso que escreveu o romance A Gorda.
A gorda que de verdade foi.
A Gorda que, por este andar, corre um sério risco.
Escapará o aclamado livro de Isabela Figueiredo ao lápis azul?
À cultura da hipersensibilidade?
Às tesouradas que já sofreram os livros de Roald Dahl, Enid Blyton, Agatha Christie e Ian Fleming?
É como diz Isabela no seu romance Um Cão no Meio do Caminho:
“O futuro está em aberto até à sua revelação, cujo calendário desconheço”.