Gosta muito da vida.
Percebe-se isso.
E gosta, sobretudo, de pessoas.
“A maior invenção de sempre foram as pessoas”, diz sem uma hesitação.
Tem uma dimensão humanista.
A magistratura apurou-a.
Um exemplo?
Foi pessoalmente à prisão visitar um homem com talento para a Filosofia. Levou-lhe livros.
Sempre fez a distinção entre “o que se faz” e “o que se é”.
Sempre fez também o elogio da transgressão.
Daquela que tem limites, claro.
Daquela que, feita no tempo certo, é saudável.
Acredita que “um jovem que não transgride será um adulto mal formado”.
Porquê?
Porque “o treino da transgressão é importante para percebermos a importância da norma”.
Também ele transgrediu.
Sobretudo o estudante Álvaro.
“Fui sempre muito cábula”.
E acha mesmo que “alguma cabulice permite abrir horizontes para outras áreas. Eu fartei-me de aprender coisas quando não estava a estudar”.
São as tais aprendizagens que só a vida nos dá.
São os tais soft skills justamente endeusados hoje.
E nesse campo entra o futebol.
Foi guarda-redes.
Tem altura para isso.
E talento.
Chegou a ser campeão nacional universitário quando estava na Universidade de Coimbra.
Na camisola só Álvaro.
É como gosta de ser tratado.
Apesar de ser difícil fazer cair os títulos a um juiz conselheiro jubilado do Supremo Tribunal que foi ministro da Justiça nos anos 90.
Neste magistrado jubilado também existe, porém, um escritor.
E um nazareno.
E um filho único.
E um pai de seis filhos.
E um melómano.
Álvaro Laborinho Lúcio mostra neste Infinito Particular uma apurada sensibilidade artística, filosófica, sociológica. Homem de causas, diz o que tem a dizer sobre os abusos sexuais de crianças na Igreja Católica em Portugal. Foi membro da Comissão Independente que levantou o véu de “uma massa imensa de testemunhos que são radicalmente chocantes”. Levante-se o Véu! É caso para se dizer.