1.
Onde estás quando tudo é sombra?
Onde estás quando só vemos destroços e contaminação do “mal”?
Onde estás quando rezo?
O que faço ao teu silêncio ensurdecedor?
Onde te posso procurar para que me respondas…
… onde estás, meu Deus?
2.
Em que parte de Gaza?
Em que caminho aquelas crianças famintas te podem encontrar?
As que choram com lágrimas gastas, as que gritam sem que um som lhes fuja da garganta.
Em que lugar aquela gente destruída te pode glorificar?
Consegues vê-los a caminhar de regresso a uma casa que já não existe? Ao lugar onde antes dormiam, comiam, amavam, faziam planos?
3.
O que está por detrás do teu plano?
Sei que existe um plano, se não existisse então o Deus em que acredito não poderia existir.
E tu existes em mim.
Dás-me muitas vezes provas disso.
Sei da tua força, mas não tenho a certeza da tua bondade.
Sei que deve existir um sentido qualquer, mas não faço ideia de qual. Não sei onde estás em cada guerra, em cada violação, em cada pessoa perdida num sofrimento inominável, em cada morte de uma criança…
… não sei onde estás quando alguém tem fome e tem sede, alguém que é torturado, não sei onde estás nos que batem com as cabeças nas paredes, nos que enlouquecem, nos que traficam veneno, mulheres, armas, droga, sangue, violência.
4.
Sei que existes, mas não sei quem és.
Sei que queres o meu bem, mas não sei se o teu bem é o mesmo que o meu.
Escrevo-te meu Deus para te perguntar sobre o caminho.
Sobre esta coisa extraordinária de ver gente sem qualquer empatia a dizer que tu és deles. Gente que explora as pessoas e os seus sentimentos, gente que acha que as mulheres devem estar em casa a mando do marido, gente zangada que fala como se falasse em teu nome.
Gente que fala em Jesus, teu filho, mas que pisa os pobres como se não fossem pessoas.
Como se fossem animais.
Ou gente de segunda.
Onde estás?
Onde está o teu filho?
Sei que estás aí.
Que estás aqui, só não sei o que me queres.
Não preciso de um sinal, mas preciso de saber que a luta não é em vão.
Meu Deus, por que nos abandonaste?
Por que não nos explicas?
Texto e programa de Luís Osório
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