As coisas foram-lhe acontecendo
“como se elas me escolhessem”.
Daí a estupefação.
Com a vida.
Com as transcendências da vida.
Adora isto:
Fado é sorte,
e do berço até à morte
Ninguém foge, por mais forte
Ao destino que Deus dá.
[cantou-o para nós]
Resume bem o seu fado.
O Fado de Cada Um.
Tema popularizado por Amália,
uma herdeira da “voz de Deus”.
Tal como Cecilia Bartoli.
Tal como Antony,
agora Anohni.
Antony and the Johnsons.
David Tibet descobriu-os.
Editou-os.
Partilhou-os com Valter.
O escritor apaixonou-se.
Antes de todos os outros.
É amigo de Antony.
E o mais inacreditável:
esteve para editar o disco
I Am a Bird Now.
Logo esse.
O vencedor do Mercury Prize.
As Quasi Edições ali, quase.
Não aconteceu.
Mas Valter compensou-se:
“fiz dele [Antony] uma personagem do meu primeiro romance o nosso reino”, em 2004.
A crítica rendeu-se.
Depois veio o segundo romance: o remorso de baltazar serapião, em 2006.
Aplausos, de novo.
Mas nenhum sucesso comercial.
O escritor “andava meio à deriva”. Enviou vários currículos. Fez saber que estava à procura de um emprego qualquer. Curiosamente, nenhuma porta se abriu. Nada acontecia. Até que aconteceu.
Em 2007 recebeu o Prémio Saramago das mãos do próprio Nobel.
Impôs-se valter hugo mãe.
Com minúsculas, pois.
São,
foram imagem de marca.
Foi o que levou José Saramago a dizer: “lembrou-me algumas ousadias a que me atrevi há vinte anos e que produziram escândalo”.
Valter cumpriu o tal destino.
Parece que não há fuga.
Daí a estupefação.
E neste foro, cabe também o milagre que lhe curou os cravos das mãos quando teria sete anos de idade.
É ouvir este Infinito Particular para crer.