1.
Um dia troquei cartas com Isaltino Morais.
Ele estava preso e ficara triste com um qualquer texto que publiquei – depois dessa troca de correspondência nunca mais falámos.
O presidente da Câmara de Oeiras fora condenado a sete anos de prisão e começou a cumprir pena num dia 25 de Abril, creio que de 2007.
Esteve preso na Carregueira e recordo bem as imagens da sua saída… visivelmente mais magro, silencioso, abatido.
2.
Fui sabendo coisas enquanto esteve preso.
Que era popular entre os reclusos, que as pessoas o rodeavam no pátio da prisão para lhe pedir conselhos, que dividia a cela com mais quatro homens, que raramente se queixava de alguma coisa, o que aliás surpreendeu muita gente lá dentro, a começar pelos guardas-prisionais.
3.
O homem saiu e reconquistou tudo o que antes perdera.
Voltou para espanto e terror dos que o abandonaram à sua sorte, alguns que o traíram ocupando lugares e beneficiando de poderes.
Concorreu às eleições e tornou a ganhá-las esmagadoramente – em Oeiras ninguém deixou de nele votar por ter sido condenado e preso num dia 25 de Abril.
Pulverizou as eleições e renasceu.
Não para ser outro, mas para voltar a ser o que ele próprio pensou que morrera na angústia da falta de liberdade e na penitência de uma humilhação pública.
Isaltino Morais voltou a ganhar eleições e é hoje mais popular do que nunca.
Promove restaurantes do concelho.
Produz vídeos de antologia.
É abraçado nas ruas de cinco em cinco metros.
E é um genuíno amigo da vida, o que merece ser relevado.
Um dia ainda comemos um lavagante ou uma patanisca.
Pago eu.