Ana Vidigal gosta de jogos de palavras.
Daqueles que podem ser dúbios.
Daqueles carregados de ironia.
Assume-se como politicamente incorreta.
Por isso, dá-se ao luxo de atribuir os títulos que bem entende às suas obras.
Normalmente, não dá satisfações das suas escolhas.
Mas neste Infinito Particular apeteceu-lhe explicar o porquê de:
“Bandalha, sou mais mazinha do que ela”.
E apeteceu-lhe também chamar os bois pelos nomes.
Chamou “mundo cão” às artes plásticas.
Censurou que sejam “dominadas pelos homens até hoje”.
E deixou um conselho às jovens artistas:
“Se tiverem autoestima arrumam-nos a um canto!”
Fala assim quem já atingiu a consagração.
Fala assim quem tem mais de 40 anos de carreira
e os resume assim:
“Ana Vidigal, a dar na cola há mais de 40 anos”
ou
“Ana Vidigal, a abrir caixas há mais de 40 anos”.
Sempre a ironia.
Sempre a capacidade de se rir de si própria.
Sempre a cola e as caixas de toda a vida.
A pintora guarda tudo e mais alguma coisa em caixas.
E é com esse tudo e mais alguma coisa que faz as colagens que tanto prazer lhe dão.
Tem um ritual: quando começa um novo ciclo, uma nova série de trabalhos, vai para o armazém…
… abrir caixas!
E o que é que elas têm lá dentro?
Elementos efémeros da cultura popular ou de massas.
Dos quais Vidigal retira deleite.
Tal como retira deleite da Poesia.
E dos livros de Clarice Lispector.
Aprendeu com a escritora brasileira a “não perder o momento”…
a agarrar as oportunidades “que não vão aparecer segunda vez”…
e a sabedoria instintiva com que nos perfumamos.
Aai… tanto para descobrir neste Infinito Particular da Antena 1 que também nos põe a dançar com Elis Regina… “dois pra lá, dois pra cá”…