O marido tem razão. Lídia Jorge “é a leveza mais suave que conheço”.
É esperançosa; o que não significa que seja otimista.
E aprendeu com a vida que “o comboio errado, por vezes, leva-nos à estação certa”.
Achou, por exemplo, que ir para África era um “passo errado”, mas mais tarde percebeu que essa experiência “foi fundadora da minha vida, da minha visão, do meu mundo”.
Sempre teve uma voz cívica na sociedade portuguesa.
E desde março de 2021 é membro do Conselho de Estado.
Faz constantemente avisos à navegação, alertando: tudo regressa, nada é adquirido!
Preocupa-a o retrocesso em todas as democracias, “incluindo a portuguesa. Nós pensávamos que tínhamos um passado de tal forma doloroso do ponto de vista da autocracia que não teríamos partidos de extrema direita e, neste momento, temos”.
O Grande Prémio de Guadalajara e outras distinções confirmaram-na como uma das maiores escritoras universais.
Tem uma Cátedra dedicada ao estudo da sua obra na Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos, e também na Universidade de Genebra, na Suíça.
Acaba de editar Misericórdia, o livro que a mãe lhe “encomendou” antes de morrer vítima de Covid no lar da Santa Casa da Misericórdia de Boliqueime, no Algarve. Um livro que fala sobre o último capítulo da vida, sobre os cuidadores, sobre a vocação para amparar o processo de envelhecimento, sobre compaixão, humanidade… ou a falta dela.
Lídia Jorge revela-nos partes não-ficcionadas do seu Misericórdia e explica-nos a estranha coincidência…
[quase premonitória!]
…de ter inventado uma invasão de formigas no livro…
…e de ter havido, de facto, um ataque de formigas real nesse mesmo lar de Boliqueime.
Este Infinito Particular não termina sem o momento Tômbola Redonda.
Já é um ritual.
Só que, desta vez, Lídia Jorge não concordou com o provérbio chinês que lhe calhou em sorte…
Vale a pena saber porquê!