1.
Zé do Porto é o rei de um tempo que morrerá com ele.
Tem 62 anos e toda a sua vida foi feita a roubar, mas atenção…
… o Zé não era um ladrão comum, era e é o rei dos elétricos, o último carteirista conhecido, respeitado por antigos colegas e pela própria polícia com quem bebia copos em cervejarias.
Respeitado por polícias que não usavam farda, a esses nunca deu confiança, o Zé alimentava amizades com agentes da Polícia Judiciária que se confundiam com a noite e convivam com ladrões e informadores como se fossem família.
2.
O rei dos elétricos não roubava toda a gente pois era obcecado com a ética.
Observava as vítimas e sacava as carteiras a quem acreditava que não faziam falta – não “gamava” pobres e tentava ao limite não depenar portugueses, o Zé era um patriota que se comovia nos jogos da seleção e com o fogo de artifício nos finais do ano onde fazia por não trabalhar.
Roubava preferencialmente estrangeiros e preferencialmente no elétrico 15 onde o dinheiro dos “bifes” e “camones” nunca está em crise.
Quando o elétrico virava naquelas arrepiantes curvas, no preciso momento em que os turistas gritavam de satisfação com o encanto da Lisboa antiga, o Zé entrava em ação e fazia o dia.
3.
Este tempo já não é o dele.
O rei dos elétricos era o último dos grandes carteiristas e foi preso pela PSP que anunciou a detenção num comunicado.
Não é uma boa notícia.
O Zé deveria ser homenageado por poetas e trovadores.
Ele é o símbolo de um tempo de que teremos saudades.
O tempo dos carteiristas e da sua ética muito particular.
Hoje já não existem como profissão, hoje os bandidos são outros e muito mais ameaçadores.
É o que é.
Um abraço caro Zé.
Quando saíres comemos uma cabeça de garoupa ou um entrecosto numa tasca à tua escolha.
E falaremos de um tempo que já não volta.