1.
Pior do que ter dinheiro é não o ter.
Concordamos com a premissa embora não seja bem assim em muitos casos.
É que quando se vai desta para melhor e a massa tem de ser distribuída. Concordamos que a pessoa morta já não se chateia, mas é doloroso ver todos os dias famílias a desmoronarem-se, irmãos a cortarem relações e gente a fazer trinta por uma linha para arrebanhar o máximo possível.
Há dezenas de pessoas presas por matarem e mandarem matar, por atraiçoarem, por falsificarem assinaturas.
Há também gritos todas as semanas nas salas de espera dos tribunais, é um clássico atacarem-se noras, genros, cunhados e há juízes que só aguentam sessões com calmantes no bucho.
2.
Aos advogados especializados em partilhas nunca falta trabalho – é um bocadinho como os cangalheiros…
… uns tratam da passagem para o outro mundo os outros da passagem do que neste ficou.
Deprimente, mas nada a fazer.
É a nossa condição humana, sem dúvida a nossa maldição.
Deixar o que se tem aos que ficam une milionários a remediados.
Une os que deixam milhões aos que deixam tostões. Basta deixar alguma coisa, um curral, uma língua de terra por lavrar ou 2000 euros para que haja gente à porta com o dedinho espetado e a berrar por justiça.
3.
Jorge Nuno Pinto da Costa escreveu sobre o dia do seu funeral, mas não nos avisou da partilha da herança. Dos filhos, da mulher, dos quadros, das casas e das guerras que agora nada têm a ver com o FC. Porto.
Marco Paulo também foi embora e não estávamos preparados para o incêndio que nem um bombeiro especializado consegue apagar.
Por mais talento que tenha, acrescento.
O bombeiro Dudu, o afilhado, o pai do afilhado, os irmãos que se indignaram por nada ter sobejado, o dinheiro que era uma fortuna, mas que agora já não é, as propriedades, o ataque do fisco e o que ainda não sabemos.
“Mais e Mais Amor/Que Amor Tão Louco”, cantava Marco.
E cantava bem.
Que amor tão louco o destes herdeiros.
Ricos e pobres.
Remediados e desgraçados.
Só a mim é que nada me toca.
Talvez numa próxima vida.
Vou rezar por isso.
Disponível posteriormente em Spotify, Apple Podcasts, YouTube e RTP Play.